sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Kane & Lynch 2: Dogs Days


Xangai é um lugar sujo e decrépito, a ascensão da economia chinesa não é insinuada um momento sequer, porém é vista pelos prédios de vidro engolindo as vielas estreitas dos bairros residenciais. Lá é o novo lar de Lynch, que continua a fazer trabalhos escusos para todo tipo de criminoso disposto a pagar uma boa grana.

Porém, o reencontro com o parceiro Kane dá oportunidade para tiroteios sem fim pela cidade mais populosa da China. O motivo não poderia ser mais banal: em um momento de desespero Kane mata a pessoa errada - a filha de um grande mafioso.

A partir desse ponto a história mostra seu grande ponto fraco: na tentativa desesperada de manter o suspense, nada é dito. Basta seguir em frente e atirar em tudo o que se move - e muitas coisas se movem. A matança acaba ofuscando as personalidades distintas dos protagonistas, tão enfatizadas no primeiro título e dá pouco tempo para o jogador respirar e prestar atenção nas conversas. No final tanto faz o porquê, o importante é sobreviver para chegar ao fim do game e ganhar as Conquistas e Troféus.

As rajadas de metralhadoras ao menos mostram que os dois aprenderam a apertar o gatilho com eficiência, representando uma significante melhora na mecânica de jogo em relação ao título anterior. Os armamentos agora são bem distintos uns dos outros e existe sempre uma arma para cada ocasião. Se o combate é em locais fechados, uma escopeta; se for em campo aberto, um rifle de precisão e, entre as duas extremidades, pistolas, metralhadoras ou rifles de assalto.

Os alvos variam dos simplórios capangas, passam pelos policiais e chegam aos matadores profissionais. Em todos os casos, dotados de uma bela inteligência artificial que trabalha para atacar o jogador pelos flancos.

Dog Days" tem um respeitável modo online que oferece uma experiência mais profunda e divertida. O destaque fica para Fragile Aliance, modalidade na qual os jogadores são divididos em dois times rivais querendo assaltar o mesmo banco.

No início da partida os grupos são unidos, mas no desenrolar do jogo existe a possibilidade de uns se virarem contra os outros, ganhando assim mais experiência e dinheiro. Pode até parecer bobagem, mas é aqui que conseguimos ter um vislumbre de genialidade da IO Interactive ao criar algo realmente inovador.

Uma variação dessa modalidade é o Undercover Cop, na qual um dos bandidos é um policial disfarçado e tem potencial de tornar cada partida uma experiência sem igual - para isso, basta o jogador saber interpretar o seu papel. Mas as novidades acabam por aqui, pois o terceiro tipo de jogo, Cops & Robbers, é apenas uma variação do já batido Team Deathmatch.

Mafia 2

Histórias sobre famílias italianas e o crime organizado nos Estados Unidos tem sido mais do que contadas ao longo dos anos. A prática foi mostrada em diversas mídias, como o cinema, com o filme "O Poderoso Chefão", e na série de TV "Família Soprano", mostrando uma comunidade fechada e membros que respeitam a hierarquia.

Palavras como confiança, respeito e honra fazem parte do manual do bom mafioso e nenhum jogo conseguiu traduzir esses conceitos tão bem quanto "Mafia", da 2K Games, lançado em 2002.

"Mafia II", esta continuação, acontece entre as décadas de 40 e 50 na cidade fictícia de Empire Bay e tem como foco o conflito entre três famílias italianas que lutam para manter o controle do crime organizado da região. Enquanto os velhos chefes se satisfazem com golpes, empréstimos e cassinos ilegais, os mais jovens se aventuram para conseguir enriquecer rapidamente com praticas mais perigosas, como assaltos a joalherias e tráfico de drogas.

É claro que isso chama a atenção e logo começa a guerra entre os clãs. E isso é presenciado por Vito Scaletta, o protagonista Zé Ninguém que trilha o caminho para se transformar em um dos homens mais importantes da cidade.

"Mafia II" proporciona uma verdadeira viagem no tempo. O cenário é belíssimo, rico em detalhes, e mostra uma grande metrópole americana da época. A Segunda Guerra Mundial é o assunto do momento: as rádios trazem notícias dos acontecimentos no Velho Mundo, ruas apinhadas com cartazes do exército recrutando homens para lutar pela paz mundial e, claro, carros típicos do período andando morosamente pelas avenidas. Mas não é só por fora que os detalhes impressionam, dentro das casas e comércios é possível ver o cuidado minucioso da equipe de produção em criar a atmosfera perfeita.

As missões seguem o padrão aplicado pelo primeiro título da série, com longos trechos para serem percorridos de carro, só que dessa vez sem a implicância constante da polícia. Porém, é difícil não notar a grande influência estabelecida pela série "GTA".

Na maioria dos casos, o jogador deve seguir para um ponto da cidade, fazer o objetivo (que é matar, roubar, extorquir, explodir ou entregar um item) e depois seguir para o ponto B. Ainda assim, é possível ver que os desenvolvedores elaboraram uma série de missões típicas de mafiosos, como enterrar corpos e mutilar inimigos, mantendo assim uma identidade própria e marcante.

As mecânicas do jogo também seguem o padrão do gênero, mas o sistema de cobertura é um pouco duro e pode atrapalhar em espaços apertados. A 2K Czech tentou inovar ao colocar um sistema de combate desarmado bem elaborado, além de colocar diversas situações de trocas de tiro empolgantes e desafiadoras, o que mantém o interesse sempre em alta.

Na maioria das tarefas, Vito está acompanhado de Joe, amigo de infância. A ajuda dele não chega ser crucial, pois o companheiro controlado pelo computador sempre deixa a tarefa de eliminar os adversários por conta do jogador, mas é importante para complementar a narrativa e dar dicas ao jogador do que fazer em seguida.


"Mafia II" tem um grande foco na narrativa e agrada os fãs de histórias do gênero. As mecânicas foram construídas para manter o interesse do início ao fim, o que o diferencia de ser classificado como um clone de "Grand Theft Auto". Mafia 2 macula a excelente experiência de presenciar uma aventura típica e fascinante do crime organizado italiano.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Call of Duty: Black Ops


"Call of Duty" começou em 2003 como mais um jogo de tiro em primeira pessoa, claramente inspirado no sucesso de "Medal of Honor" mas não demorou para superar a franquia rival. A partir de 2007, com "Modern Warfare", "Call of Duty" se tornou o jogo a ser copiado e, quem sabe, superado.

A produtora Treyarch, vista como um estúdio secundário - os dois games "Modern Warfare" são criações da Infinity Ward - se aventura em um território inédito para a franquia: os conflitos dos anos 60, quando Estados Unidos e União Soviética lutavam ao redor do globo por influência política. Assim como "Metal Gear Solid", a Guerra Fria serve de pano de fundo para uma trama de ficção envolvente que faz a ligação entre os "Call of Duty" antigos e o primeiro "Modern Warfare".

Na campanha principal, o jogador assume o papel de Mason, soldado de Operações Especiais norte-americano, em busca de uma arma biológica terrível e de vingança. Com exceção de três missões curtas, o foco da narrativa está em Mason e essa decisão permitiu contar uma história muito mais detalhada e cheia de reviravoltas, digna dos melhores filmes de ação.

E ação é o que não falta em "Black Ops": em cerca de 15 horas de campanha, o jogador vai atropelar policiais nas ruas de Cuba, atirar em um ditador, saltar de rapel, fazer base jump do alto de uma montanha, mergulhar no mar do Caribe, explodir uma nave espacial, trocar tiros nos telhados de Hong Kong, usar oponentes como escudo, escapar de uma prisão siberiana, chuta latões de Napalm sobre os inimigos, pilotar lanchas ao som de "Sympathy for the Devil", dos Rolling Stones, voar em helicópteros, jogar "roleta russa" e eventualmente salvar o mundo, literalmente, com as próprias mãos.

Outro mérito do jogo é a diversidade: além dos excelentes tiroteios, há rápidas trocas de socos, missões de infiltração furtiva, batalhas aéreas e até mesmo estratégia em tempo real, em que um piloto passa instruções para a tropa em solo. As armas também são variadas: além das típicas metralhadoras, pistolas, rifles de precisão e lança-foguetes, o arsenal inclui bestas com flechas explosivas, bombas arremessadas em um enorme estilingue improvisado, mísseis anti-aéreos guiados pelo jogador e machadinhas.

Mesmo para um game de tiro, "Black Ops" é bastante violento. Gargantas cortadas, tomadas de câmera dramáticas em tiros na testa e uma sequência onde o jogador tortura um informante são parte do jogo.

Além da campanha, "Black Ops" possui outros modos de jogo e extras divertidos. A modalidade multijogador é uma evolução de "Modern Warfare 2", com novas mecânicas - o dinheiro e os contratos - que tornam o game mais divertido e profundo. Além da experiência, o jogador recebe créditos a cada partida e com eles, pode liberar armas, habilidades especiais e acessórios. Isso elimina a ordem em que cada novo item aparece no jogo e agiliza o processo de escolha, tornando as partidas mais estratégicas e divertidas.

Por fim, retorna o modo Zumbi de "Call of Duty: World at War", onde até quatro jogadores enfrentam hordas de nazistas mortos-vivos, nos moldes de "Left 4 Dead", mas com uma orientação similar aos jogos de tiro mais antigos, onde cada morte conta pontos que são usados para comprar armas, munição, abrir portas e até "vidas" extras.

O modo Zumbi tem dois cenários: no primeiro, liberado desde o começo, os jogadores são soldados da 2ª Guerra Mundial presos em um cinema durante a invasão zumbi. O outro, que se abre após o fim da campanha solo, coloca um quarteto ilustre da década de 60 para enfrentar os mortos dentro do Pentágono: John Kennedy, Fidel Castro, Richard Nixon e o secretário de defesa Robert Macnamara.

Entre os extras do jogo, se destacam dois, liberados ao explorar o menu inicial: o adventure de texto "Zork", relíquia do começo dos anos 80, e "Dead Ops Arcade", um game de tiro no estilo "Zombie Apocalypse", em que os jogadores disparam contra zumbis e coletam itens especiais, inclusive um macaco astronauta e armas especiais de "Call of Duty". Há também artes conceituais e modelos dos personagens do game.

Com visual incrível, diversidade e muita ação, "Black Ops" é o melhor jogo de tiro do ano, não há dúvidas. A Treyarch mostrou que é capaz de ir além da 2ª Guerra Mundial e explorar territórios modernos, prendendo a atenção do jogador em uma grande aventura de guerra e conspiração. Mais ainda, com "Black Ops" o estúdio provou que, quando se trata de jogos de tiro, por enquanto, só um novo "Call of Duty" é capaz de superar "Call of Duty".

Pro Evolution Soccer 2011


Nesta última década, todo fim de ano foi marcado pela disputa entre "FIFA" e "Pro Evolution Soccer" (o antigo "Winning Eleven") como melhor série de futebol. Em 2010, o capítulo é dos mais interessantes, pontuado por uma excelente continuação da franquia da Electronic Arts e um grande e evidente esforço da Konami para buscar a liderança perdida.

"Pro Evolution Soccer 2011" apresenta uma evolução drástica com relação à edição passada, mostrando que a Konami finalmente acordou e está levando a sério os problemas que enfrenta.

A novidade mais radical fica por conta da renovação total dos controles, em especial passes e chutes. Agora, além de definir a direção em 360 graus, é necessário também medir a força e passe dos toques a arremates, adicionando uma nova camada de complexidade à mecânica de jogo. Não apenas isso, mas o posicionamento do atleta e pressão de adversários exercem ainda maior influência, tornando as disputas ainda mais acirradas.

A princípio o estilo pode frustrar veteranos, já que mexe em elementos básicos da série, mas com treino e eventual domínio do sistema é possível perceber que "PES 2011" mantém a essência da franquia, possibilitando um futebol mais ágil do que em "FIFA".

Dribles ficaram mais fáceis de executar, podendo inclusive serem mapeados para a alavanca analógica da direita, para poder ligar um no outro. Adicionalmente, o sistema de cobertura na defesa ficou mais elaborado, permitindo, por exemplo, apenas seguir à distância e escolher o momento do bote em vez de apenas ir direto para roubar a bola. Pequenos detalhes, mas que quando somados resultam em diferenças bem sensíveis.

Outro aspecto que demonstra grande evolução é o visual. Os atletas estão mais bem modelados e realistas, assim como os efeitos de luz, que realmente ajudam a criar um aspecto mais vibrante - especialmente nos replays. Novas animações complementam o pacote, mas o trabalho ainda é inferior àquele visto em "FIFA 11".

Tempero brasileiro

Na parte técnica o que se vê em "PES 2011" é uma coleção de ajustes e novidades que culminam em evoluções consideráveis em relação ao ano passado. O mesmo acontece com relação aos modos de jogos e opções extras, mas de forma ainda mais forte e marcante, especialmente para jogadores brasileiros.

Corinthians consquista Libertadores

A UEFA Champions League retorna totalmente licenciada, agora acompanhada pela Copa Libertadores América, o tradicional torneio continental da América do Sul. A inspiração é a edição 2010 do torneio, incluindo na conta os cinco times brasileiros que disputaram a competição: Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Internacional e São Paulo. Todos 100% licenciados, da escalação aos patrocínios nos uniformes.

Ainda no aspecto sulamericano de "PES 2011", o título inova ao apresentar narração e comentários em português do Brasil, comandados por Silvio Luiz e Mauro Beting. Ambos conseguiram imprimir estilos próprios, diferenciando-se bastante da monotonia dos narradores em inglês, o cuidado não fica só para narração e comentários: todos os textos do game estão traduzidos para português, o que já ajuda imensamente.

Online e conteúdo extra

Outro grande esforço da Konami em "PES 2011" é no quesito online, aspecto em que "FIFA 11" dá um verdadeiro show de bola. A evolução é notável, mas ainda fica devendo para o rival - algo que, inclusive, o próprio produtor Shingo "Seabass" Takatsuka admitiu em entrevista na Tokyo Game Show 2010, em setembro. Todas as opções do game podem ser jogadas pela internet, oferecendo estabilidade muito maior do que em "PES 2010". Ainda há ocasionais lags e demoras para encontrar pessoas com quem jogar, mas a evolução é inegável.

Fica a mesma impressão no modo Become a Legend, que ficou mais prático e menos cansativo do que em "PES 2010", mas ainda está longe do capricho e versatilidade do rival "FIFA". O jogador agora tem mais oportunidades de entrar em campo, mas falta uma orientação melhor sobre o que fazer em campo e como atuar.

Por fim, um elemento que "PES" resgata com glória é o conteúdo extra, que vai da nostalgia ao absurdo de maneira muito divertida. Além de pacotes de jogadores clássicos, é possível habilitar bolas diferentes, como travesseiros e barris, e até mesmo cabeças diferentes para os jogadores. Uma adição interessante é um editor de estádios, que possibilita criar suas próprias arenas, utilizando até mesmo elementos gráficos de jogos antigos da Konami, como "Castlevania" e "Gradius".

Naruto Shippuden Ultimate Ninja Storm 2


A saga do ninja da Vila Oculta da Folha retorna aos videogames em grande estilo. Dois anos depois do primeiro jogo, a Namco Bandai apresenta "Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm 2" é um game inspirado nos desenhos animados japoneses, com qualidade suficiente para agradar o publico em geral e mais ainda os fãs devotos.

Nesta continuação os jogadores acompanham a fase Shipuuden do desenho animado (ainda inédita no Brasil), na qual Naruto continua sua jornada para se tornar um dos ninjas mais poderosos do mundo. O garoto retorna à Vila Oculta da Folha após passar três anos em treinamento com o mestre Jiraya e mergulha em uma trama envolvendo um grupo secreto que pretende usar os poderes dos Jinchuurikis contra o mundo.

Ainda que a produtora Cyberconnect2 tente situar os jogadores que não estão familiarizados com a série, colocando informações sobre personagens, locais e organizações em todas as partes de "Naruto", é evidente que só quem assiste os desenhos animados com regularidade vai entender as piadas e referências com naturalidade.

No modo principal o jogador controla os personagens em situações que aparecem na animação. O game consegue ser mais divertido do que o próprio desenho animado, resumindo capítulos inteiros em cenas de pouco mais de três minutos e se concentrando mais na ação e combates.

Em combate, o jogador corre, dispara estrelas ninja, aplica socos, chutes e ataques especiais, além de vez ou outra contar com a ajuda de aliados. Mesmo com ampla variedade, os golpes são fáceis de executar e não exigem comandos complicados. O que vale em "Ultimate Ninja Storm 2" é o tempo em que os botões são pressionados, tanto para defesa quanto para o ataque.

Há também batalhas épicas representando os melhores momentos da série. Nesses momentos é evidente o capricho para transmitir ao jogador a sensação de participar do desenho animado. Durante essas lutas, aparecem comandos que devem ser pressionados rapidamente, bem ao estilo "God of War". As cenas são emocionantes e é difícil não ficar de queixo caído com tantas explosões e golpes exagerados.

A duração do modo principal gira em torno de 20 horas e mesmo depois do fim, ainda existem muitas missões paralelas a serem realizadas, não sendo difícil chegar às 40 horas para concluir todos os desafios oferecidos. Além disso, o jogador tem a opção de voltar e lutar novamente todas as batalhas da história principal para ganhar mais dinheiro e para comprar equipamentos e itens especiais.

Em paralelo ao modo principal, "Ultimate Ninja Storm 2" também oferece as modalidades Free Battle e online. São partidas cooperativas para dois jogadores, que escolhem entre os 44 personagens do jogo e enfrentam vários oponentes. Porém, não existem batalhas especiais como as vistas no modo de aventura, o que é um pena, já que os adversários controlados pelo computador não são tão desafiadores.

A Ciberconnect2 é uma empresa que entrega ao fã tudo aquilo o que ele espera: um jogo que conta a aventura do desenho animado, modos de luta contra outros jogadores e tudo isso sem ter a cara de caça-níquel. "Naruto Shipuuden Ultimate Ninja Storm 2" é um tributo à série.

Fight Night Round 4


Para muitas pessoas, "Fight Night Round 3" serviu mais para ganhar alguns pontos de Conquistas fáceis no Xbox 360. A verdade, porém, é que o jogo, além de ser uma das melhores demonstrações do poder da geração atual de consoles na época de seu lançamento, também transformou a série em uma referência absoluta no gênero. Agora, anos depois e sob tutela de uma equipe completamente diferente, "Fight Night Round 4" chega para honrar a franquia e se estabelece como o maior jogo de boxe da atualidade, graças a seus visuais impressionantes e rico sistema de combate.

Realismo suado

O esquema de controles segue com o Total Punch Control, aquele sistema que utiliza os dois direcionais analógicos para a ação. O esquerdo é encarregado da movimentação enquanto o direito é usado para desferir golpes; neste, os braços do lutador respondem aos movimentos e toques de acordo com a direção acionada. Os botões superiores do controle servem para esquiva, bloqueios e os golpes mais poderosos; funcionando sempre em conjunto com os analógicos.

Pode parecer um esquema complicado no começo. É necessária uma boa dose de coordenação para acionar tudo com precisão, contando ainda com os botões frontais que se encarregam de agarrar ou atirar o adversário contra cordas ou até mesmo apelar para golpes ilegais. Mas tudo funciona de maneira intuitiva. Logo dá para se acostumar e perceber que tudo funciona com extrema perfeição, com ritmo dinâmico e golpes que se encaixam com incrível fluidez.

Há de se levar em conta, ainda, o estilo de cada lutador e suas características físicas. Aqueles com maior envergadura se dão melhor em golpes distantes, enquanto os menores são mais indicados para combates mais próximos. A quantidade de defesas ou ataques bem sucedidos é contabilizada durante as lutas não só para o placar dos juízes, mas também para angariar pontos para seu treinador recuperá-lo entre os rounds- com direito a minigames que aparecem desde o momento em que é preciso se levantar de um nocaute a séries de exercícios, com variáveis graus de sucesso.

É um sistema robusto que cai bem com a espetacular apresentação. Extremamente realista, os modelos dos lutadores são detalhadíssimos, com texturas de pele assustadoramente humanas, além de efeitos de deformação em tempo real. Socos fazem literalmente os músculos balançarem, rostos incharem e o suor voar pelos ares. Golpes perdidos criam expressões de desapontamento nos combatentes. Tudo sem sinal de lentidão, texturas bugadas ou problemas de colisão. Só a trilha é que parece destoar um pouco do conjunto, com uma seleção eclética e moderna demais para um jogo que se orgulha de trazer grandes campeões do passado.

O esquema de carreira volta com tudo no jogo, que agora permite que você mexa no calendário de lutas e mantenha estatísticas sobre sua popularidade. Claro, a possibilidade de criar um lutador já é obrigatório neste tipo de jogo, mas mas provavelmente os jogadores se sentirão mais inclinados a explorar o Legacy Mode, que traz figuras lendárias dos ringues. Mike Tyson, Muhammad Ali, George Foreman, "Sugar" Ray Leonard, Joe Frazier, Júlio César Chavez e vários outros dão as caras e podem ser controlados desde o início.

O jogo também aceita câmeras dos consoles para que o jogador utilize seu próprio rosto. Isso é especialmente interessante no multiplayer online, já que lutadores criados podem ser compartilhados. E a própria experiência online se torna mais interessante do que o modo para um jogador, graças à natureza pouco adaptativa da inteligência artificial, que tenta utilizar sempre as mesmas estratégias. Pela internet, jogadores podem encontrar rivais bem mais criativos, ainda que o campeonato não seja dos mais robustos e que as três categorias misturem os lutadores sem muito critério.

"Fight Night Round 4" é um espetacular jogo de boxe, provavelmente o melhor já desenvolvido. O sistema de combate é bastante completo, com uma resposta eficiente de comandos e boa profundidade. Os modos de carreira também funcionam bem, principalmente pela possibilidade de jogar com lendários lutadores, com visuais realistas impressionantes, com direito a deformações em tempo real e expressões variadas dos pugilistas, é um jogo obrigatório para entusiastas do esporte.

TimeShif

aramente um jogo com tantos problemas durante sua produção, como aconteceu com "TimeShift", conseguiu chegar às prateleiras das lojas e se apresentar como um produto digno. O game de tiro, que nasceu como um projeto a ser distribuído pela Atari em 2005, acabou passando para as mãos da Sierra no ano seguinte devido aos problemas financeiros da lendária companhia, sendo praticamente refeito do zero e adiado para 2007, dando à equipe de desenvolvimento tempo para ajustes e aperfeiçoamentos. O tempo literalmente ajudou o desenvolvimento do jogo que, embora não se equipare aos clássicos do gênero, se mostra uma experiência bastante satisfatória.

A apresentação de "TimeShift" não trabalha exatamente a seu favor - tudo começa às pressas, em um emaranhado de clichês que introduz o jogador como um cientista sem nome e sem carisma que toma posse de uma de duas roupas especiais capazes de manipular o tempo, esta com características militares, equipada com uma blindagem regenerativa. O objetivo é caçar o Dr. Aiden Krone, co-criador do dispositivo, que roubou a outra unidade (mais simples, sem o equipamento de combate) para viajar ao passado e criar um império à sua imagem.

Assim como os diversos filmes, livros, quadrinhos e outras mídias que inspiraram a trama, aqui o herói se alia a um movimento rebelde e encara uma verdadeira guerra civil para alcançar seu objetivo, utilizando de vários efeitos que não trazem nada de novo e que muitas vezes tornam a narrativa truncada e de difícil compreensão. O poder mais comum é o "slow-motion", que como em "Max Payne" ou no recente "Stranglehold", permite mirar com bastante calma em pontos vitais dos inimigos, ou mesmo o "rewind", como nos "Prince of Persia", que torna o protagonista capaz de evitar explosões ou situações mais desesperadoras. Somando a isso, há também alguns quebra-cabeças simples a serem solucionados e que só podem ser resolvidos da maneira como o jogo prevê, não dando margem a nenhum improviso ou acidente, o que acaba por ofuscar essa tentativa de tornar o jogo mais complexo.

O estranho é que, embora não se baseie em conceitos novos, nem na história ou no modo de jogo, "TimeShift" consegue cativar pois insere estes elementos em um design linear de mapas, forçando uma série de combates ligeiros e emocionantes, graças também aos controles precisos e à agressiva inteligência artificial dos inimigos.

Os gráficos e o áudio também ajudam bastante. Tudo é bem moderno e roda sem maiores problemas. Logo na primeira fase já é possível notar um belo efeito de chuva caindo sobre objetos e contra o visor da roupa, ou o interessante efeito de zoom na mira da arma, que tira o foco do resto do cenário. Os efeitos sonoros colaboram na imersão, principalmente com alguns efeitos de eco e abafamento dentro de ambientes fechados. São caprichos técnicos que evidenciam que o atraso acabou fazendo bem ao jogo.

Outro aspecto positivo é o multiplayer, que deve agradar fãs de jogos ágeis como "Quake" e "Unreal Tournament". Embora ele, inicialmente, se baseie em modos tradicionais como Deathmatch e Capture the Flag, tentando não fugir do padrão, os combates são frenéticos com algumas variantes que permitem o uso das habilidades temporais (como a que dá poderes ilimitados a um jogador, que é caçado por todos os outros), deixando as já aceleradas partidas com um toque imprevisível e cativante. Algumas, inclusive, se tornam tão interessantes que chegam a ofuscar o modo single-player, contribuindo para a longevidade do jogo.

"TimeShift" é um jogo que tinha tudo para dar errado, mas conseguiu surpreender. É tecnicamente bem realizado e proporciona combates divertidos, principalmente no modo multiplayer.

Need for Speed: Hot Pursuit


O ano de 2010 é marcado pelos grandes jogos de corrida. Um dos grandes motivos para isso está neste prometido de uma série que mora nos corações do fãs de velocidade: "Need For Speed". A expectativa é justificada, afinal, o estúdio responsável pela missão é o Criterion Games, o mesmo da série "Burnout". A tarefa não foi fácil, pois a franquia vem de uma sequência de decepções, que sempre esperavam mais por parte da Electronic Arts.

Para trazer a série de volta ao topo do pódio, a produtora resolveu trazer de volta as perseguições policiais, não as de "Most Wanted" que não proporcionava a experiência de urgência de perigo. Faltava o espírito dos primeiros jogos da série, um medo real dos homens da lei de transformar uma BMW M5 em uma lata de refrigerante amassada

Perseguições insanas

Jogar "Hot Pursuit" é uma experiência sem igual. Cada carro reage de uma forma diferente na pista. Os musculosos Ford GT ou Dodge Viper podem não ser os melhores para fazer curvas, mas rasgam o vento nas retas. Outros como Subaru Impreza quase não são prejudicados ao sair do asfalto.

Ao ligar o game pela primeira vez, é pedido para o jogador incluir o código do Online Pass para que jogadores possam se conectar ao Autolog, rede social do game no qual são apresentados os amigos que estão online e seus feitos. Mesmo jogando o modo de carreira, os usuários disputam entre si, competindo pelo melhor tempo nas provas. Caso um recorde seja batido, é possível mandar uma mensagem para seu colega, tirando um sarro dele.

O modo carreira é bem extenso e dividido em duas partes: uma para as disputas "fora-da-lei" e outras com o jogador como policial. Em ambos os casos a variedade de eventos é bem balanceada. Para os corredores existem as corridas comuns, contra outros oito carros; disputas entre dois corredores e, claro, a fuga da polícia na categoria Hot Pursuit.

Nessa última, além de ter que correr para chegar na frente, é necessário ficar de olho no que os policiais vão fazer para acabar com a corrida. Para se defender o jogador conta com armas como pregos, turbo, bloqueador de radar e o EMP, uma arma que dispara ondas eletro magnéticas que danificam o motor do alvo. Mas os mocinhos também contam com algumas cartas na manga, como o próprio EMP e os pregos - mas nada é tão mortal quanto os bloqueios de rua e os helicópteros. A força policial aérea é ainda mais letal, pois os ataques continuam até que algum carro seja acertado com suas armadilhas.

"Hot Pursuit" conta com um sistema de evolução de carreira no qual tanto os policiais, quanto os fugitivos vão ganhando pontos conforme a atuação na pista, seja derrapando, andando na contra mão ou destruindo os rivais. A cada nível ganho, mais carros são liberados e mais difícil vão se tornando as provas.

No modo online são três opções de jogo, a corrida normal, a polícia contra suspeitos e o disputadíssimo um contra um chamado Interceptor - nele um jogador deve despistar o policial, podendo usar atalhos ou mesmo mudar de caminho abruptamente. Em todos os casos, as partidas transcorrem sem engasgos e são bem desafiantes e divertidas.

A seleção de carros foi feita com cuidado, colocando apenas modelos que estão nos sonhos dos visitantes de salões de automóveis. Lamborghinis, Porsches, BMWs, Mercedes e outras marcas famosas estão presentes - com exceção à Ferrari, que mais uma vez ficou de fora da série. Os modelos são os mais variados: dos exóticos, como a Mercedes McLaren, aos esportivos, como Porsche Carrera. Todos retratados fielmente, inclusive nos detalhes mais singelos, como o ronco do motor e os frisos de aerodinâmica.
Detalhes esses que podem ser observados por vários ângulos antes de se decidir. Inclusive quando as batidas mais espetaculares preenchem a tela. É quase inacreditável a forma que os possantes ficam amassados - peças se soltam, pneus são furados e vidros estilhaçam. Até os carros de passeio que povoam os traçados lembram modelos reais de tão detalhados.

Os traçados são um show à parte e variam entre trechos de vias expressas, estradas no alto de montanhas, à beira-mar, em desertos e túneis. Curvas sinuosas, retas que vão até a linha do horizonte e compõem um cenário inesquecível. Pena que os carros passam correndo a mais de 200 quilômetros por hora e detalhes como o nome de uma loja ou fazenda quase passam despercebidos, afinal os olhos devem ficar atentos à pista.

Em todas as pistas existem caminhos alternativos que se usados com sabedoria podem levar à vitória. As variações de hora da corrida vão do amanhecer ao fim da tarde e chegam noite adentro. O importante é que a corrida nunca deve parar, seja sob o sol à pino, seja em baixo de chuvas e trovões.

Pilotar os bólidos por essas pistas não poderia ser uma experiência melhor. É impossível não ficar empolgado ao sentir o peso do carro no controle. A sensação de velocidade é simplesmente inebriante, empolgante mesmo, e as curvas são feitas com os carros derrapando e os freios gritam quando têm a tarefa de parar o possante.