sexta-feira, 25 de março de 2011

Vanquish


Ao olhar para o passado de Shinji Mikami e seus jogos, fica difícil traçar a trajetória entre "Resident Evil" e "Vanquish". Um tem a ação mais lenta, levando em consideração a sobrevivência e a exploração, o outro é mais dinâmico e frenético. Se existe uma coisa que ambos têm em comum é o quanto esses dois jogos divertem os jogadores.

Sam Guideon é um personagem, canastrão, cheio de marra e confiante - o herói possui uma armadura desenvolvida pela Agência de Pesquisa e Desenvolvimento Avançado (tradução da sigla DARPA, em inglês) que é a arma suprema no campo de guerra, permitindo que ele acabe com os soldados inimigos disparando e trocando de armas como nem mesmo John Rambo fez nas telas dos cinemas.

O cenário é uma colônia espacial que imita a vida na Terra, mas com um detalhe adicional: o lugar abriga um canhão de energia de micro-ondas capaz de destruir cidades inteiras em um piscar de olhos. Os inimigos são robôs e soldados russos que tentam dominar o local. E está aí a receita para um jogo empolgante, que incentiva o jogador a entrar de cabeça em uma trama de ficção científica envolvente e emocionante.

Nos três primeiros minutos, ainda no tutorial do jogo, a impressão é que "Vanquish" é apenas um jogo de tiro futurista e nada mais. Mas assim que a habilidade de disparar em câmera lenta é ensinada e é liberado o uso do botão para sair escorregando pelo chão em alta velocidade, é possível perceber que este não é mais um jogo qualquer.

Em principio, Sam é enviado junto com o exército para o espaço. Sua missão é coletar informações sobre a atuação da armadura ARS em uma situação real de combate, mas secretamente o seu intuito é resgatar o professor Candide, o criador da armadura e da fonte de energia da estação Providence.

A história tem um certo charme, ela tenta seguir na mesma linha de "Metal Gear Solid", colocando o jogador para acompanhar uma aventura sob o ponto de vista de um personagem cativante, mas que acaba se envolvendo em algo maior envolvendo traição no alto escalão dos governos.
Mas isso não é o foco de "Vanquish" - da mesma forma que não é de outros jogos de tiro muito bons. Em muitos aspectos, o game nem mesmo parece ter sido desenvolvido por uma produtora japonesa. Os controles são sólidos e precisos, enquanto o sistema de cobertura é eficiente e vital para manter Sam vivo.

Ao seu dispor estão diversas armas que podem ser melhoradas, indo desde os mais básicos como rifles de assalto, metralhadoras e rifles de precisão, e chegando em outras menos ortodoxas, como disparadoras de raios laser teleguiados e a Life Beam, que atravessa paredes e acerta inimigos que estão escondidos. Todas elas são divertidas de se usar e úteis em momentos específicos da trama.

Mas nada é mais poderoso que a própria armadura de Sam, a ARS Suit. Ela é que torna possível passar ileso por uma área apinhada de inimigos disparando contra o protagonista. Quando ele recebe muitos danos, o traje ativa sua magia: o aumento da realidade. Com isso, Sam enxerga tudo em câmera lenta por um determinado período de tempo. Assim ele consegue eliminar diversos inimigos, se esquivar de disparos e ainda sobra tempo para correr para uma área de proteção. Isso significa que, por mais difícil que seja a dificuldade, o que conta no final é a habilidade do jogador - a morte é sempre um erro humano, não uma limitação injusta do game.

A armadura também é capaz de disparar golpes poderosos como socos e chutes que consomem toda a sua energia. Os golpes são alterados conforme a arma empunhada por Sam - com rifles ele dispara um combo de socos, com escopetas ele dá um ataque que varre tudo ao seu redor e assim por diante.
Até mesmo as emocionantes batalhas contra chefes não facilitadas pela habilidade do jogador. Os pontos fracos geralmente são exibidos como pontos luminosos em seus corpos ou podem ser vistos quando Sam ativa a realidade aumentada.

A pontuação ao final de cada fase resume a atuação do jogador, como a velocidade para concluir as áreas, impedir que soldados aliados sejam eliminados e se houve ou não mortes do protagonista. Dessa forma "Vanquish" traz de volta aquela disputa dos fliperamas para ver quem consegue fazer mais pontos - mas agora em escala global, com os rankings online.

A história não chega ser curta. Seis horas são mais do que suficientes para contar a trama sem dar voltas desnecessárias. Dessa forma o jogo mantém mostrando novidades do início ao fim, sem nunca deixar o jogador entediado ou frustrado por ter que enfrentar a quinta versão genérica do mesmo chefe.

A vida útil do título é aumentada com os desafios propostos que colocam o herói contra hordas de inimigos em cenários já visitados pelo jogador. Essa parte é quase uma galeria de tiro, mas a dificuldade é bastante elevada e coloca as habilidades do jogador em teste a cada nova onda de inimigos.

Com ação frenética e alta dificuldade, "Vanquish" apresenta imagens fantásticas. Naves se chocam contra o chão e prédios explodem ao fundo enquanto no campo de batalha rajadas de tiro e peças de robôs cruzam os ares. O pior é que às vezes nem dá para ver o excelente trabalho por causa de tanta ação.

O trabalho de efeitos sonoros é impecável e as músicas (quando é possível ouvi-las no meio do barulho dos combates) são tão empolgantes que colocam o jogador no ritmo da batalha ou trazem a calmaria nos momentos nos quais que ela é necessária. Certamente um dos pontos mais fortes do jogo.