segunda-feira, 3 de maio de 2010

Heavy Rain




Heavy Rain é o mais recente projeto do estúdio francês Quantic Dream, responsável pelos cultuados "Omikron: The Nomad Soul" e "Indigo Prophecy". Assim como os trabalhos anteriores, este novo game para Playstation 3 foi idealizado por David Cage, fundador da produtora, que tenta novamente criar algo próximo de um filme interativo.

Com certeza é uma vontade ambiciosa e, na maioria das vezes, Cage consegue o que pretende. Heavy Rain se mostra impecável na maneira em que aproxima o jogador de seus personagens principais. A narrativa é fragmentada pelos pontos de vista de seus protagonistas, o arquiteto Ethan Mars, a fotógrafa Madison Page, o agente do FBI Norman Jayden e o investigador particular Scott Shelby. Todos, por motivações variadas, estão à procura de pistas que levem ao maníaco conhecido como Assassino do Origami, que ataca garotos durante temporadas de fortes chuvas.

Personagens carismáticos:

Trocar fraldas de um bebê, cozinhar ovos mexidos, escovar os dentes ou beber água. São tarefas banais no dia a dia, mas que em um jogo como este ajudam a delinear a personalidade dos personagens e os transformam em algo maior que simples punhados de polígonos e texturas. Os heróis do jogo esboçam um brilho de vida que transcende a experiência habitual de jogar videogame. Eles hesitam, tem medos, tomam decisões por impulso, se empolgam com pequenas vitórias e estão sempre abertos a dividir tudo com o usuário. Viram amigos, parceiros ou contrapartes digitais que instigam a seguir com a história.

Bons contadores de história sabem que bons personagens ganham vida própria e, para continuar, basta inserir drama. Cage entende isso muito bem, mas seu roteiro não é livre de problemas. Parte da diversão de "Heavy Rain" está na capacidade de mudar pequenos eventos de cada segmento chegando ao cúmulo de permitir até que os protagonistas morram.

Alguns trechos que trazem momentos essenciais para a trama também funcionam de forma desonesta e iludem o jogador a pensar que poderia ter alterado tudo se assim quisesse, quando não é sempre verdade. Imagine que o jogo funciona como uma casa em reforma sem planejamento; você pode mudar uma parede ou outra de lugar, um piso ou revestimento, mas a base permanece inerte e, ao término, você nunca sabe direito como chegou ao resultado final.

A maneira como o jogador interage no universo de "Heavy Rain" também é importante na relação com os personagens. A exemplo de "Indigo Prophecy", é preciso mimetizar certas ações com o controle de acordo com alertas que aparecem de tempos em tempos na tela. É preciso pressionar botões no tempo certo, girar alavancas direcionais com cautela e até mesmo utilizar o sensor embutido no controle do Playstation 3 para, digamos, dirigir um carro. Parece bobo e antiquado, mas o esquema funciona de maneira orgânica e se mistura bem aos acontecimentos na tela. Tais indicações de comando também sofrem influência do estado emocional dos envolvidos, assim, em um momento de desespero, tais sinais podem aparecer tremidos ou pouco visíveis, o que torna a experiência ainda mais nervosa. Só a movimentação dos personagens é problemática, com controles que mais parecem os de robôs.