quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"God of War 3"

O episódio final da trilogia de aventuras do guerreiro Kratos coroa o ocidente como principal mercado produtor de games, superando o pioneirismo oriental, e também destaca o PlayStation 3 como principal plataforma dos últimos dois anos - ao menos em termos de produções exclusivas.

"God of War III" é um dos títulos mais esperados do ano e consegue atender às altas expectativas criadas, entregando uma experiência absurdamente polida e divertida e ainda se consolidando como melhor capítulo da série.

Desenvolvido durante cerca de 3 anos por uma equipe de mais de 120 pessoas e custo aproximado de US$ 44 milhões, marca a estreia da franquia no PlayStation 3. Mesmo batendo de frente com "Final Fantasy XIII", ícone máximo da indústria japonesa em território ocidental, o game é de tamanha qualidade que aos outros lançamentos resta apenas brigar para decidir qual será o segundo melhor jogo de 2010.

Épico sem igual

"God of War III" inicia exatamente no ponto em que "GoW II" terminou: o guerreiro espartano Kratos busca a ajuda dos exilados titãs para enfrentar os deuses gregos, que habitam o Monte Olimpo. Mais especificamente, Kratos busca vingança contra Zeus, divindade suprema que traiu diversas vezes o herói.

Tradicionalmente, a sequência inicial de um jogo da franquia engloba uma batalha em partes contra um grande chefe. Aqui não é diferente, mas o confronto já dá o tom da aventura inteira: épico, em escala nunca antes vista. Do início ao fim, "GoW III" prima por dar ao jogador a chance de vivenciar intensamente um conto grandioso.

O conceito encontra forma nos titãs, que além de personagens são também fases. Seis vezes maiores que os colossos de "Shadow of the Colossus", são o grande orgulho dos produtores do game e rendem as cenas mais impressionantes.

Apesar de todo o destaque, pouco aparecem na história - apenas duas sequências se passam em cima das criaturas - mas o impacto provocado por estes momentos é tamanho que talvez a sensação fosse diluída caso aparecessem mais titãs. Uma carência provavelmente causada pelo alto custo de produção deste tipo de fase, mas que acaba se justificando em prol do equilíbrio da mecânica e ritmo de jogo.

Aliás, "God of War III" brilha como síntese de toda a experiência que o estúdio de Santa Monica adquiriu nos "GoW" anteriores. O ritmo de jogo é excelente, jamais cansando ou perdendo o interesse. A receita é a mesma de sempre: fases lineares com várias áreas para combater inimigos, pontuadas por sequências de plataforma e, mais raro ainda, quebra-cabeças.

Porém, o capricho é grande e a experiência da equipe transparece. O game encontra equilíbrio exemplar entre todas as situações que dispõe e, eventualmente, surpreende com algo novo e diferente, mas que jamais causa estranhamento e ajuda a renovar a experiência. Por exemplo, em situações pontuais a câmera assume visão em primeira pessoa. Outro momento marcante é ao encontrar com Helios (deus do sol, que aparece no demo da E3 2009), em que você movimenta apenas a mão de Kratos por alguns segundos para bloquear o brilho ofuscante do adversário.

O enredo se esforça para amarrar todos os fiapos de história mal resolvidos ao longo dos últimos cinco anos de "God of War" - e faz um bom serviço. Kratos encara praticamente todas as situações absurdas que ainda não tinha acontecido nos outros jogos e tudo é encadeado de maneira a tornar a jornada cada vez mais épica.

Nos campos de batalha, o prato principal da série, tudo continua muito bem, obrigado. Novamente faz diferença a experiência e qualidade do time de Santa Monica e o que se vê é uma versão quase perfeita da mecânica clássica de "God of War". Os movimentos são ágeis na velocidade ideal, combos entram com facilidade e, o melhor de tudo, há uma atenção muito maior para os equipamentos secundários.

Itens como o arco-e-flecha e a lanterna para cegar inimigos permitem criar diversas estratégias de luta. Para estes objetos estreia uma barra de cor amarela, que se regenera sozinha, diferente da barra azul de magia que se esvai conforme os poderes são usados. Além de bugigangas, Kratos ganha movimentos novos que, de tão úteis, logo viram movimentos corriqueiros, como se sempre estivessem lá, caso do agarrão à distância com a corrente o desvio aéreo.

Os embates contra chefes são o ponto alto de "God of War III", ocasião em que todos os aspectos da produção atuam em conjunto e brilham de forma singular. Cada inimigo é combatido em cenários fortes e marcantes. Melhor ainda, cada um exige métodos diferentes para ser batido, seja um estilo mais tradicional, valendo de habilidade no controle para escapar dos golpes, ou trechos de plataforma.

Muitos produtores apontaram o combate contra um dos titãs, lá pelo meio da história, como o melhor do game e é difícil não fazer coro - a luta é absolutamente impressionante. Não é a única, claro, considere comum se pegar de boca aberta impressionado ao lutar contra os chefões, mas esse oponente em especial traz uma experiência de jogo tão intensa e jamais vista que se destaca dos demais.

Vale citar, a violência exagerada continua sendo marca patente de "God of War". De fato, o visual em alta definição torna as cenas ainda mais chocantes e com direito a um requinte gráfico: o sangue que jorra mancha o corpo de Kratos, gerando momentos realmente fortes nos quais ele fica quase que totalmente coberto de vermelho.

Sobre os quebra-cabeças, a quantidade é menor do que visto nos dois "GoW" anteriores de PS2, mas a qualidade aumentou. Situações fáceis e tradicionais de empurrar blocos para pressionar botões ou criar plataformas predominam, mas dois puzzles em especial marcam pela novidade: um, situado em um jardim, obriga a trabalhar com perspectiva tridimensional enquanto outro transforma o próprio cenário em um enigma mecânico. Nada num nível de dificuldade de se descabelar, mas abordagens empolgantes que ajudam a criar o ritmo tão gostoso e equilibrado de "God of War III".

Os minigames de Quick Time Events (QTE), em que se deve apertar determinados botões em momentos indicados na tela, voltam para manter a tradição, mas agora os botões aparecem nas extremidades da imagem, deixando a cena em questão mais limpa para apreciar. Para acompanhar essa onda de sensíveis ajustes, os trechos de plataforma ficaram menos frustrantes, com poucos pulos desafiantes ou correria com tempo justo no relógio.

Visual que imita cinema

Do início ao fim, "God of War III" não foge dos irmãos mais velhos e bate na média de 10 horas de aventura. Pode parecer pouco para alguns, mas a impressão que fica no final é muito mais marcante do que no PlayStation 2 graças ao trabalho gráfico.

O título começou a ser desenvolvido no início de vida do PS3 e ainda por cima foi o primeiro da equipe de Santa Monica ("Flower" até foi publicado por eles, mas a produção em si é da Thatgamecompany). Logo, programar no console era um mistério que foi se desenrolando paralelamente à produção do jogo. A demo da E3 2009 (a mesma liberada gratuitamente na PlayStation Store) já apresentava um bonito visual, mas o resultado final é extremamente superior, com detalhes adicionais, taxa de quadros mais estável e diversos filtros gráficos que aproximam a aparência à de produções cinematográficas.

De fato, os produtores ficaram tão satisfeitos com o resultado que optaram por usar estes mesmos modelos 3D nas animações de corte - nada de CGs como nos "GoW" anteriores, o visual que aparece nos filmes é o mesmo do jogo em si.

O resultado é fantástico e coloca em xeque até a hegemonia de "Uncharted 2" como jogo mais bonito do PS3.

Não basta o aspecto técnico, "God of War III" brilha ainda mais por um design inspiradíssimo. A quantidade e qualidade de detalhes e conceitos que não podiam aparecer no PS2 ganham chance agora. Assim, mesmo quando não se trata de uma paisagem colossal ou coisa do tipo, o ambiente chama atenção pela beleza. E não para por aí: o jogo ainda se permite algumas liberdades artísticas, mudando em alguns momentos o filtro gráfico, ganhando aspecto cel shading ou de outros tipos.

Trilha sonora e dublagem já eram primorosos e isso não muda. O tema da série martela em diversas variações, o que pode enjoar para alguns, e as vozes continuam com interpretações convincentes, em especial o ator T.C. Carson, voz de Kratos.

Vencida a campanha principal, habilita-se um monte de conteúdo extra, como já acontecia nos jogos anteriores. Novas roupas, arenas de desafios e dezenas de vídeos de making of garantem boa longevidade, assim como níveis de dificuldade mais desafiantes.