segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Assassin's Creed
Deitado em uma máquina, Desmond Miles presencia uma realidade diferente do seu mundo contemporâneo. Suas memórias são do ano 1191 e pelos olhos Altair Inb La-Ahad vê conspirações envolvendo a coroa, sarracenos e templários em plena Terra Sagrada, mais especificamente nas cidades históricas de Jerusalém, Damasco e Acre. Na verdade, Altair é um habilidoso assassino que faz parte de um obscuro culto. É a figura chave da trama.
O enredo de "Assassin's Creed" até caberia como parte do filme "Matrix", mas a premissa é bem diferente. Desmond é objeto de uma experiência que vasculha no código genético lembranças impressas da vida de seus antepassados. Não o faz por vontade própria e, aos poucos, o passado de seu distante parente ajuda a entender seu drama presente. O jogador interage nas duas linhas de tempo, mas na esmagadora maioria no passado, revivendo os passos de Altair, em uma aventura que explora tecnicamente o PlayStation 3 e Xbox 360 de forma memorável.
Anunciado em 2005, "Assassin's Creed" só foi ganhar nome no ano seguinte, mas também era conhecido como o jogo da Jade Raymond. A carismática produtora literalmente viajou o mundo para vender o projeto da Ubisoft que conta também com o talento de criadores de "Prince of Persia". Um jogo que algum momentos pode lembrar sucessos como "Thief", "Splinter Cell" e até "Grand Theft Auto", mas tem alma própria. O culto que inspirou o jogo (também conhecido nas grafias Hashshashin, Hashishin e Hashashiyyin) de fato existiu e praticava assassinatos por interesses políticos entre os séculos XI e XIII. A história se desenvolve sem as tradicionais seqüências em computação gráfica. Mas não espere algo cativante como "Half-Life 2" ou "Bioshock". O enredo é fraco e o final confuso deixa aberto para uma seqüência.
Se em termos de história, o jogo falha em unir passado e presente acerta em cheio em fundir a emoção do "le parkour" - um esporte moderno que consiste em vencer obstáculos com fluidez através de saltos, cambalhotas e outros movimentos acrobáticos - com os cenários medievais.
O resultado é surpreendente. Não só pela emoção das fugas cinematográficas, mas também pela reprodução das três cidades que servem de palco para a aventura. Após cometer um assassinato, Altair é perseguido por guardas e deve correr pela sua vida através da multidão, trombando em barracas, pulando muros, escalando casas e saltando de telhado em telhado até a segurança de um esconderijo. Em nenhum momento ele fica parado. Tudo flui de forma incrivelmente natural e é digno de qualquer seqüência de ação de um filme de James Bond.
Executar essa mistura de corrida e lutas coreográficas pode parecer complicado no começo, ainda mais da forma que ela é apresentada - colocando o jogador em ação logo na primeira cena -, com minutos de prática se torna tão natural como os movimentos do personagem. Após o susto, um tutorial sem cenários explica os comandos básicos. E, na seqüência, já na pele de Altair, a primeira hora linear coloca em campo todos os truques para depois arrancá-los. Depois, eles são devolvidos gota a gota conforme o progresso. Bem antes disso, o jogador já estará fisgado pelo clima e mecânica de "Assassin's Creed".
À medida que as lembranças de Altair vêm à tona - as fases do jogo são chamadas de blocos de memória no embalo do enredo -, e o jogador para seu cavalo para admirar as muralhas que cercam Damasco, tem-se a certeza de algo grandioso.
Soldados em patrulhas, vendedores com sua barracas, oradores políticos, religiosos e toda diversidade de uma multidão se espalham pelas ruas caóticas da cidade. Altair deve passar cuidadosamente em meio as pessoas para não derrubar vasos e despertar a atenção. Ou não. Caso descoberto, pode escalar cada uma das centenas de casas e fugir pulando de telhado em telhado. Pedintes e bêbados agressivos são os mais pentelhos e podem pôr fim ao estado furtivo do assassino. O ápice é escalar os altos pontos de observação para reconhecer a área. Aproveite para admirar o visual.
As três cidades são gigantescas divididas em área rica, pobre e intermediária. Eventualmente tem-se aquela sensação de dejá vu - hummm, acho que já vi esse beco antes -, mas não vai além disso. O cenário é bem orgânico é dá um prazer em percorrer e explorar cada rua. Cada objeto tem sua textura bem trabalhada e tudo na cidade projeta sombras realistas. Se não bastasse a qualidade visual, a ambientação sonora - seja no barulho do vento quando Altair escala uma torre ou nos gritos de socorro de habitantes - dão vida à selva de pedra medieval. Única exceção é a agência que Altair tem de visitar em cada cidade para encontrar com seu informante: as três têm arquitetura idêntica com entrada pelo teto.
Não necessariamente o jogador precisa cumprir 100% dessas tarefas. Mas a cada sucesso aumenta-se um pouco a barra de sincronização de memória, que nada mais é que a barra de energia de Altair. Ao enfrentar um grupo de templários lá pelo final do jogo, ter essa barra ao máximo é um grande alívio. Calcule uma hora para cada pedágio antes do assassinato, que ao menos são diversificados. Com 18 horas de duração, em média, metade de "Assassin's Creed" é obrigação e a outra diversão.