segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Dead Space
Depois que "Resident Evil" consolidou o termo "survival horror" para descrever aventuras exploratórias repletas de sustos e criaturas horrendas, poucas foram as franquias que conseguiram se estabelecer no mercado, principalmente aquelas criadas fora do Japão. Talvez por isto o segmento tenha perdido o fôlego nos últimos anos, e até mesmo a série da Capcom parece estar rumando para o caminho da ação e deixando o terror um pouco de lado pelo que foi mostrado até agora de " Resident Evil 5".
Mas aqueles jogadores que gostam de tomar sustos, ainda podem ficar aliviados. A Electronic Arts resolveu explorar o nicho, algo que nunca tentou para valer até então, e conseguiu entregar um genuíno exemplar de " Survival Horror". "Dead Space" tem sangue, monstros, enigmas e muito suspense, em uma tentativa clara de agradar aos fãs órfãos do gênero, ainda que para isto tenha se segurado em todos os clichês que pôde encontrar, com poucas inovações.
A trama de "Dead Space", que aliás foi complementada por histórias em quadrinhos e outros produtos relacionados, se passa em futuro distante, quando a Terra exauriu seus recursos naturais e a humanidade se viu forçada a explorar outros planetas em busca de minerais. A maior nave de mineração disponível é a USG Ishimura, que consegue destruir planetas inteiros durante seu processo de prospecção. Mas algum problema acontece à bordo e as comunicações com o resto da frota são cortados, acionando uma equipe de reparos que logo parte ao encontro da nave.
O jogador toma o papel do engenheiro Isaac Clarke (em uma referência nada sutil aos escritores Isaac Asimov e Arthur C. Clarke), integrante da nave de reparos Kellion, designada para restabelecer a funcionalidade da Ishimura. Mas para Clarke a missão também tem cunho pessoal, uma vez que sua amada, Nicole Brennan, faz parte da tripulação da mineradora.
Claro que, ao chegar ao seu destino, Clarke descobre que o problema não é de simples solução. Aparentemente toda a tripulação foi dizimada, talvez por algum tipo de infecção desconhecida, e parte em busca de maiores detalhes enquanto enfrenta algumas criaturas nojentas e deformadas. Como bom mocinho, ele ainda acredita que Nicole está viva em algum ponto da nave e acrescenta isto à sua lista de mistérios a desvendar, assim como um meio de escapar dali inteiro.
Se você já jogou "Resident Evil 4" ou algum similar, já sabe mais ou menos como funciona "Dead Space", com a câmera sobre o ombro de Isaac. A grande diferença aqui é que ele se posiciona mais para o lado esquerdo da tela. É estranho no começo, mas é fácil de compreender tal necessidade de movê-lo para o canto; como seu modelo é imenso e extremamente detalhado, poderia atrapalhar o campo de visão, principalmente naquelas tais momentos inoportunos em que vários monstros querem devorá-lo.
O que diferencia mesmo Isaac de outros heróis do gênero é a sua armadura, que oferece blindagem, oxigênio e alguns poderes bacanas, como o de congelar inimigos e objetos ou movê-los à distância, ao melhor estilo " X-Men". O herói também pode fazer melhorias em sua roupa e também nas várias armas que vai colecionando pelo caminho, como um rifle de energia e um empolgante lança-chamas.
Esta ênfase nas habilidades e poder de fogo do protagonista não vem de graça. Ainda que funcione como um "Survival Horror" clássico, criando um vai e vem sem fim para encontrar uma peça X que se encaixe no lugar Y, o foco mesmo é na violência. Todos explicam a Isaac que os inimigos morrem mais rápido se esquartejados, então pode ter certeza que boa parte do tempo investido em " Dead Space" será gasto picotando monstros horrendos - algo que foi muito explorado na campanha de marketing do game. Causa boa impressão no começo, mas é algo subaproveitado; depois do centésimo bicho morto, você só se preocupa mesmo em despachá-los logo para seguir adiante e o impacto se perde totalmente.
Como a Electronic Arts está em busca de novas franquias, ela parece ter investido pesado na produção de " Dead Space". Mesmo que não tenha um estilo visual marcante, único, o design da Ishimura é bem interessante e recriado com muito capricho, com cantos escuros e saídas de ar posicionadas estrategicamente para esconder monstros. Os modelos também são extremamente detalhados e, assim como dito anteriormente, é impressionante o tamanho de Isaac na tela, além da animação natural e fluida.
O som é outro fator importante na produção. Com um bom equipamento de Home Theater, é possível se envolver ainda mais na aventura, ouvindo passinhos a todos os cantos ou então gritos desesperados à distância. A música não é tão presente, mas causa impacto nos momentos certos, principalmente na abertura, com uma sinistra versão da canção de ninar "Twinkle, Twinkle, Little Star".