"Bayonetta" é o novo game de Hideki Kamiya, designer de "Viewtiful Joe" e outros games famosos para a Capcom, que hoje é co-diretor do estúdio Platinum Games, de "MadWorld" e "Infinite Space". De certa maneira, o lançamento é uma evolução de seu maior sucesso na antiga empresa, "Devil May Cry", com elementos remodelados e aperfeiçoados.
Nova musa
A tal Bayonetta é uma voluptuosa bruxa que se envolve em uma trama maluca sobre uma guerra celestial em uma cidade fictícia da Europa e utiliza maneiras bastante excêntricas para destruir inimigos. Sua roupa, por exemplo, tem a tendência de se desfazer durante os combates e deixá-la nua, já que o tecido é criado em tempo real por seu próprio cabelo, que também pode se transformar em punhos gigantes, monstros gigantes e outras formas de grande utilidade.
Bayonetta também conta com dois pares de pistolas. Duas destas armas ficam acopladas aos saltos de suas botas, para combos acrobáticos em que disparos se mesclam com socos, chutes e piruetas. Os outros itens e acessórios que surgem são igualmente estranhos - imagine abrir uma porta com uma chave gigante ou enfrentar anjos com um trombone - e criam uma surpresa atrás da outra. Aliás, surpresas é o que não faltam no game.
O clima de insanidade é com certeza um de seus maiores trunfos. Como em alguns dos melhores exemplares de animês pastelões, "Bayonetta" não parece ter medo do ridículo e faz piada com tudo no melhor estilo japonês. Todos os personagens são excêntricos, munidos de roupas espalhafatosas e diálogos repletos de chavões e clichês. Os inimigos e situações nunca parecem se encaixar direito e deixam espaço para que os absurdos tirem a ação do lugar comum que muitos jogos parecem se acomodar. Até mesmo a nudez da personagem faz parte da brincadeira e, de certa forma, tira sarro de outras heroínas avantajadas dos games que abusam de roupas de stripper e se comportam como freiras.
A heroína é desinibida, mas é certo que a proposta passa longe do pornográfico. É pura sátira. As situações, reviravoltas e o comportamento dos personagens são tão absurdos e exagerados que não dá para levar nada a sério. É um game que joga de lado as convenções atuais do gênero de ação em terceira pessoa, numa tentativa de fugir do marasmo conceitual que hoje reutiliza sem dó sujeitos carrancudos repletos de armas gigantes em alguma missão épica por aí.
Claro que a abordagem não daria certo se as fundações do jogo não fossem sólidas. Kamiya foi inteligente e utilizou a mecânica básica de "Devil May Cry" para dar forma ao funcionamento de sua nova empreitada. O combate é bastante parecido, repleto de golpes que se emendam em combos, chefes gigantes e até conta com o suporte de uma loja para aquisição de itens e armas.
As novidades, no entanto, são muitas. No momento exato em que um inimigo está para acertar Bayonetta, por exemplo, é possível se esquivar para ativar o Witch Time, que coloca tudo em câmera lenta e abaixa a guarda dos inimigos para um contra-ataque. Há também um movimento de tortura que pode ser acionado quando uma barra especial está cheia, o que evoca equipamentos como guilhotinas e damas de ferro para finalizar inimigos.
Todas as mortes e destruição de certos objetos - além de um minigame - garantem o acúmulo de auréolas (que mais parecem os anéis da série "Sonic the Hedgehog") que servem como moeda no game. Bayonetta também pode coletar materiais para criar itens que melhoram seus golpes ou recuperam sua energia, entre outras facilidades.
Há muito conteúdo a ser habilitado, descoberto ou comprado durante a trama. Tanto que é preciso revisitar a aventura para adquirir auréolas suficientes para adquirir roupas especiais e outros itens de interesse. Isto, aliado a um esquema de pontuação por notas, aumenta a vida útil do game de forma dramática.
O aspecto técnico do jogo segura a onda e mantém a ação sempre variada e em alta rotação, com controles extremamente precisos. A apresentação não chega a ser de deixar o queixo no chão, mas é suficiente para dar vida aos delírios de seus criadores. Os modelos são detalhados e apresentam degradação de acordo com os ataques sofridos e os cenários apresentam partes destrutíveis, entre outras minúcias. A animação é de primeira, com movimentos bizarros e piruetas bastante reveladoras por parte da protagonista.
O áudio é igualmente adequado e conta não só com uma dublagem de primeira em inglês, mas com uma trilha sofisticada que consegue pontuar bem todos os momentos da narrativa. Há espaço até para incluir um remix de "Fly Me to the Moon", canção dos anos 1950 imortalizada por nomes como Johnny Mathis e Frank Sinatra e que também já fez parte da trilha do popularíssimo animê "Neon Genesis Evangelion".