Depois de emendar três jogos rapidamente na seqüência, a Ubisoft temeu por ter exagerado na dose ao revitalizar o clássico de Jordan Mechner, "Prince of Persia". Foi uma preocupação honesta, afinal, o protagonista do leve e colorido "Sands of Time" logo se dividiu e criou um alter-ego sombrio em "The Warrior Within" e "The Two Thrones", para o desespero dos puristas, que temeram por uma banalização da franquia. O alerta foi dado e a empresa colocou o herói persa na geladeira por algum tempo.
Seu retorno não poderia acontecer em um momento melhor. Afinal, há novas e mais poderosas plataformas no mercado para darem mais fôlego às aventuras do Príncipe e começa também o burburinho em torno do longa-metragem baseado na série, que chega às telas em 2010. Assim, a Ubisoft resolveu recomeçar a saga do herói - varrendo para debaixo do tapete toda aquela baboseira de guerreiro malvadão heavy metal - ao resgatar elementos que foram mais marcantes nos jogos anteriores, tanto os da trilogia "Sands of Time" quanto do original para PC - sob o simples título de "Prince of Persia".
Parceria infalível
A história do novo jogo é bastante simples. O Príncipe está voltando de uma de suas aventuras quando perde seu jumento que carrega todas as riquezas recém-adquiridas. Em busca do animal, o herói acaba encontrando novos problemas na pele da bela Elika, uma princesa em fuga. A moça, que conta com alguns poderes mágicos surpreendentes, está em uma corrida para tentar manter Ahriman, uma criatura que pode trazer corrupção à terra, presa em um templo próximo dali.
Um pouco malandro, com jeito de vagabundo, o Príncipe resolve então seguir a beldade por pura curiosidade e acaba se envolvendo na confusão. Com o fortalecimento de Ahriman, os dois precisam explorar as regiões em torno do templo para purificar o solo, canalizando o poder da terra até à construção.
Mundo aberto
Mesmo com pouco tempo para justificar o entrosamento entre os dois no roteiro, na tentativa de manter a ação rolando, a química entre os dois personagens se mostra o grande trunfo do jogo. Elika é provavelmente um dos personagens controlados por computador mais espertos e carismáticos dos últimos tempos. Seu papel é fundamental no jogo em todos os momentos - ela pode ajudar o protagonista a realizar combos, a dar saltos duplos e até mesmo evita que ele morra. Isto mesmo, você nunca morre porque ela sempre dá um jeitinho de te salvar, não importa qual seja a situação.
Claro, é um artifício que a Ubisoft Montreal utilizou para deixar jogadores casuais menos frustrados, mas que acaba ajudando no ritmo do jogo. Como você não tem medo de encarar uma tela de Game Over a todo pulo mal calculado, fica mais corajoso para explorar os amplos cenários, ainda mais que agora o jogo traz uma abordagem mais aberta, em que você pode escolher a ordem dos cenários a desbravar.
A abordagem amigável para todos os públicos, Claro que o grande barato da série é a exploração dos cenários e os quebra-cabeças, mas simplesmente parar a ação para enfrentar um inimigo de cada vez, sem medo de morrer ou fazer nada de errado, não acrescenta muita coisa na experiência. Ainda bem que a equipe de desenvolvedores é bem experiente e consegue pontuar a aparição dos inimigos de maneira bastante inteligente, dando uma sensação de urgência e certo suspense quanto ao desfecho das batalhas, criando ao menos certa curiosidade em relação ao que pode acontecer durante os duelos.
Mecânica tradicional
Apesar da abertura da exploração e da grande presença de Elika, os controles de "Prince of Persia" são bastante parecidos com os da trilogia anterior. Você salta, escala barrancos, gira sobre postes ou hastes e corre por paredes. Tudo como antes, só que em um esquema muito mais leve e intuitivo, com comandos que não precisam de muito tempo de carregamento e que perdoam alguns leves desvios ou pequenos erros de pressionamento.
Os combates seguem a mesma diretriz, com ataques com espada e com a nova manopla do herói. Há também um botão para defesa e outro para chamar Elika para a briga, e combos são realizados com pequenas variações de toques. Não há muito desafio, principalmente quando aparecem indicadores avisando sobre o melhor momento para defender, mas ao menos as animações criam a ilusão de que as batalhas são sempre grandiosas e disputadas.
Luta contra as trevas
Por falar em animações, a apresentação é o fator que deve causar o maior estranhamento. Com um visual no chamado cell-shading, que mascara os polígonos tridimensionais para que pareçam desenhos animados, "Prince of Persia" não parece nem de longe com os anteriores. É algo bacana para dar um ar de novidade, principalmente com o interessante design de personagens, mais sujo e orgânico, beneficiado pelas boas animações. Tal cuidado também se reflete nos cenários, que são bastante distintos e que sofrem algumas transformações impressionantes durante suas purificações, disparando luzes e borrões para todos os lados, como se estivessem sendo redesenhados diante de seus olhos.
Diante da exuberância visual, o áudio acaba ficando em segundo plano. É uma trilha bem discreta, que pontua bem momentos mais tensos ou dramáticos, mas que é pouco utilizada em outros trechos mais triviais. Já a dublagem é mediana, especialmente a do herói, ainda que os diálogos tenham sempre boas intenções ao desenvolver uma maior dinâmica entre os protagonistas, grande trunfo do título.